terça-feira, 2 de junho de 2009

Melhor que calmante (reportagem da revista Men's health de maio 2009)


Bom galera, como podem notar, gostei da revista e posto aqui uma reportagem que cabe como uma luva pra nós (desculpem o trocadilho). Saliento que troquei deliberadamente no texto onde falava sobre "motocicletas" e inseri "bicicletas". Vocês notarão que se encaixa perfeitamente. Espero que curtam. Abraço

Um dia no mato sobre duas rodas não é apenas um bom caminho para se desestressar. Vale como exercício físico, mental e profissional.

Promessas milagrosas quase sempre trazem contraindicações bem escondidas nas letrinhas miúdas. Ou custam uma graninha nada miúda. Essa ferramenta de bem-estar que apresentamos agora não é tão barata, mas tem seu benefício escancarado: andar de bicicleta no mato deixa o cara mais esperto, funciona como uma preparação profissional e é... puro prazer! Nós testamos! Para começo de conversa, um dado científico: pesquisa realizada na Universidade de Tohoku, no Japão, concluiu que andar de bicicletas ajuda a manter o cérebro jovem e contribui para o desenvolvimento da inteligência. " Andar de bicicleta requer equilíbrio e outras funções sensoriais de controle", afirma o professor Ryuta Kawashima, neurologista e coordenador do projeto. " O cérebro de um ciclista pode tornar-se mais ativo para processar todas essa informações durante a pilotagem." Se manejar um veículo de duas rodas já dá um upgrade no cérebro, imagine testar sua habilidade no mato. Pense bem: cheiro de vegetação e terra, adrenalina boa, corpo exigido, amigos ao redor...
Mas será que acordar cedo, se embarrar todo, vivenciar a iminência de um tombo (não raro, vivenciar o próprio tombo), chegar ao limite das forças e depois voltar para casa morrendo de fome, coberto de lama, com músculos doloridos, é algo assim tão animador? Venha com a gente neste passeio fora-de-estrada sobre duas rodas e tire suas próprias conclusões.

Programe-se (e pondere o imprevisto)
Cada vez mais, as empresas investem na capacitação de seus profissionais e em eventos de convivência, realizados em hotéis, florestas ou praias. Neles, a grande "pegada" é motivacional, mas há embutida uma dissimulada intenção de garimpar ou formar novas lideranças.
E, se liderança é uma palavra-chave no mundo dos negócios, essa quaidade é fundamental quando um grupo de ciclistas pretende se aventurar por caminhos desconhecidos. Seguindo o raciocínio, uma equipe coesa também é fundamental. Treinadores de futebol, empresários e até "promoters" sao unânimes em afirmar que o sucesso em suas áreas está intimamente ligado à formação de um grupo unido, mas que reúna distintas características e habilidades.
Com isso em mente, definimos o nosso grupo, o roteiro e a esquadra (de motocicletas). O normal é que o líder surgisse naturalmente. como na área empresarial, o bom líder deve ter experiência; um bom conhecimento geral sobre a atividade; ter um projeto desenhado; conhecer os caminhos para atingir o objetivo planejado; arriscar alguns atalhos, mas com segurança; ter o discernimento para escolher bons desvios quando surgem adversidades; ter a visão geral do grupo e a percepção para compreender problemas enfrentados por algum de seus integrantes e também habilidade e rapidez para poder voltar e resgatar alguém que, eventualmente, tenha "desgarrado" pelo caminho.Para a reportagem foi montado um grupo de amigos (como o nosso), e pela descrição, fica claro o objetivo de reunir um grupo absolutamente normal, como qualquer um pode formar. Debaixo da armadura - capacetes, luvas e demais equipamentos - não lembrávamos, em nada, os poderosos exércitos romanos; na verdade, estávamos muito mais para um exército de Brancaleone. Mas com o sangue fervendo.

"Como na vida corporativa, você precisa desenvolver liderança e fibra para enfrentar os obstáculos"

Organize-se para a batalha
Assim como devemos fazer na véspera de uma reunião importante, dormir bem na noite que antecede uma trilha é o primeiro passo para ter sucesso - e prazer - no dia seguinte. Aqui vão duas boas maneiras de relaxar enquanto se prepara para o passeio: primeiro, um bom banho quente, é claro; segundo, organizar e limpar todo o equipamento a ser utilizado.
No meu caso, isso não funcionou muito. Vivia uma situação muito comum no mundo corporativo, especialmente em épocas de crise e downsizing, como a atual: havia virado líder da noite para o dia. Tinha o desafio de conduzir o grupo por um território que não dominava completamente. Passei boa parte da noite repassando mentalmente caminhos e desvios possíveis.
A manhã logo chega e, com ela, a importância de uma boa alimentação antes de encarar a trilha. Frutas, cereais, carboidratos fazem parte do cardápio. Lembre-se de que você terá um desgaste acima do normal durante o dia, portanto o ideal é reforçar a alimentação. carboidratos são fundamentais no estoque de energia e na manutenção do equilíbrio. "E não esqueça de hidratar-se: uma deficiência nessa área pode comprometer seu senso de arientação e provocar cãimbras", lembra Aulus Sellmer, treinador da assessoria esportiva 4any1. Portanto vale separar bebidas esportivas e barras energéticas para consumir durante o percurso. O grupo chegou com pontualidade ao local combinado, demonstrando compromisso com os demais e evitando, assim, o desgaste de esperas, principalmente quando se está "pilhado" para começar o percurso.

Controle a ansiedade
Se no mundo corporativo é fundamental saber controlar a ansiedade, na trilha também. E alongar é um bom caminho para isso. " Para que o corpo funcione de maneira positiva, alongar é uma necessidade básica", explica José Rubens D'Elia, consultor da equipe olímpica de ciclismo e preparador de diversos atletas - entre eles, o velejador octacampeão Roberto Scheidt. Na verdade, todo atleta, seja ele profissional ou amador de fim de semana como nós, sente na pele a importância de um bom alongamento, mas sempre esbarra na ansiedade do "vamos logo", ou na mal disfarçada preguiça. "Alongar é como escovar os dentes", bem define D'Elia.

Enfrente os obstáculos
Hoje, existem diversos modelos de bicicletas destinados exclusivamente à prática do fora-de-estrada. Os preços partem de valores razoáveis, mas podem extrapolar os 20 mil reais.
Iniciamos as trilhas de terra com bastante prudência e cautela.
Nos perdemos algumas vezes, o que obrigou o grupo a se unir e dar apoio e suporte ao líder na tomada de decisões. Enfim, o grupo foi se analisando e as virtudes e limitações sendo detectadas. Não demorou para surgirem os lamaçais, pedras, raízes e erosões, o que obrigou cada um de nós a descobrir a melhor forma de enfrentar ou se desvencilhar dos obstáculos: mais uma grande lição das trilhas!
Não faltaram, ainda, situações ilárias (muito presentes também no dia-a-dia corporativo). Várias vezes, encontramos, principalmente nas partes mais baixas, a trilha interrompida por riachos. A prudência e o bom senso nos faziam buscar novas passagens entre a mata densa.

Dobre sua força, e o prazer
A essa altura, os hormônios já estavam em ebulição e sua atuação cada vez mais clara. Em desafios, isso é normal. Um deles, a adrenalina, atua como um "turbo" que nos faz encontrar forças extras onde imaginávamos não mais haver. Outros, como a endorfina, produzido na hipófise, tem um certo poder analgésico e está diretamente ligado à sensação de prazer que uma prática esportiva pode provocar."A endorfina funciona como um anestésico natural.Quando estamos sujeitos a um grande estresse físico ou mental, ela é liberada para reduzir um pouco a dor e as sensações ruins", afirma a neurocientista Li LI MIn, da Unicamp (SP).
Essa sensação de prazer estava estampada no rosto de todos. Em uma das paradas, à beira de um riacho, um deles afirmou: "Não imaginava que era assim. Está sendo muito mais emocionante do que saltar de paraquedas", comparando com um desafio anterior. Quatro horas depois, nossa trilha terminou, com um sorriso de criança safada dos participantes.

Celebre o sucesso
Eu disse "terminou"? Nada! Toda boa trilha só acaba depois de horas de "causos" regados a cerveja (no nosso caso coca-cola hehehehe).

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